Eu não sou assim, escreveram-me assim…

EU NÃO SOU ASSIM, ESCREVERAM-ME ASSIM…
50 minutos – Alunos do ensino secundário e público em geral

Apeteceu-nos imaginar o que diriam as personagens da nossa literatura (que os próprios autores tradicionalmente dizem fugir-lhes ao controle e ganhar vida própria) se lhes pudesse ser dado a escolher.

Serão as personagens mesmo assim: malditas, infelizes, amaldiçoadas e presas ao destino? Ou, pura e simplesmente, escreveram-nas assim?

Fotos

Quem faz o quê

Concepção – Andante

Textos: Al Berto, Almeida Garrett, António Botto, António Lobo Antunes, António Nobre, Bernardim Ribeiro, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Fernão Mendes Pinto, Florbela Espanca, Garcia de Resende, Guerra Junqueiro, João Roiz de Castelo Branco, José Carlos Ary dos Santos, José Luís Peixoto, Luís de Camões, Maria Velho da Costa, Mário de Sá-Carneiro, Ruy Belo, Sebastião da Gama, Sophia de Mello Breyner Andresen, Sóror Mariana Alcoforado

Dramaturgia e Encenação: Luís Assis

Pesquisa e Selecção de textos: Luís Assis e Cristina Paiva

Interpretação: Cristina Paiva e João Brás

Concepção Plástica: Maria Luiz

Sonoplastia: Fernando Ladeira

Design Gráfico: Paula Mourão

Músicas: Múm, Pascal Comelade, Hopkinson Smith, Saafi Brothers, Propellerheads, Goldfrap, Boo.Reka, Mino, The Righteous Men, Björk, Visit Venus, Portishead, Gustav Holst, Sigur Rós, Rodrigo Pinheiro, Nelly Furtado

Apoios: C.M. Alcochete, Juntas de Freguesia de Alcochete, Samouco e S. Francisco, Restaurante Solar do Peixe em Alcochete

Agradecimentos: Fundação João Gonçalves Junior, Tágides.net, Rádio Eco FM – 104.8 Mhz, Associação Gil Teatro

Mais

Quando olhamos para as obras emblemáticas da literatura mundial, não é difícil encontrar heróis ou exemplos de coragem e tenacidade que alimentam o imaginário dos seus autores e leitores.
Na literatura portuguesa, no entanto, é um pouco mais difícil iniciar uma busca assim. Somos uma literatura parca em heróis. Sempre preferimos a lamúria das personagens malditas ou amaldiçoadas pelo fado do que a exortação dos que conquistaram com determinação o destino pelas suas próprias mãos.
E talvez seja significativo que, de todos os reis que Portugal conheceu, tenham sido exactamente os “malfadados” os que mais estimularam o imaginário português: D. Pedro (e sua Inês de Castro) e D. Sebastião.
Este último, jovem monarca morto na batalha de Alcácer Quibir, deu mesmo lugar a um mito sebastianista cuja simbologia é ainda hoje frequentemente evocada para ilustrar o temperamento português ou explicar os seus comportamentos mais típicos.
Provavelmente está-nos no sangue: sempre gostámos mais de carpir as mágoas e de nos dilacerarmos nos braços inevitáveis do destino do que propriamente proclamar o êxito sobre as adversidades e a tenacidade para vencer obstáculos.
“Eu não sou assim, escreveram-me assim…” propõe um olhar sobre algumas personagens recorrentes da literatura portuguesa, mas sobretudo sobre uma tendência da nossa escrita de todos os tempos: aquilo que poderíamos denominar, com um piscar de olho, o culto do “desgraçadinho”.
É infindável a galeria de personagens malditas, amaldiçoadas, presas pelo destino, fadadas para a infelicidade (ou só mesmo para os mais diversos percalços), personagens vítimas de incestos tão involuntários como inevitáveis, amorosos destinados à morte desde o primeiro momento em que os seus olhos se cruzam, e mesmo quando são testemunhas de grandes feitos, essa grandiosidade serve muitas vezes para pôr em contraste a miséria do seu próprio destino individual.
Por muito que nos custe, é esta a herança que a literatura nos tem legado e foi sobre esse legado que nos apeteceu fazer um espectáculo. Mas não sem o questionar, não sem lhe permitir uma defesa em causa própria.
Apeteceu-nos sobretudo imaginar o que diriam as personagens (que os próprios autores tradicionalmente dizem fugir-lhes ao controle e ganhar vida própria) se lhes pudesse ser dado a escolher.
Serão as personagens mesmo assim: malditas, infelizes, amaldiçoadas e presas ao destino? Ou, pura e simplesmente, escreveram-nas assim?

 

Luís Assis

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Depois

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